quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Educação ONLIFE

Parece-me que, nos dias de hoje, a distinção entre a vida online e offline já não faz qualquer sentido. A verdade é que muitos adultos, e atrevo-me a dizer a quase totalidade dos nossos jovens, dos nossos alunos, vivem permanentemente conectados, pelo que qualquer tentativa da por parte da Escola em insistir nessa dicotomia e em estabelecer uma rutura entre on off está condenada ao fracasso. O caminho, parece-me, terá de passar por uma rentabilização significativa, eficaz e eficiente, do que poderá constituir um aliado poderoso nos processos de aprendizagem: as TIC.

O conceito de onlife poderá, então, fazer sentido ao nível da educação. O termo teve origem no projeto Iniciativa Onlife, lançado pela Comissão Europeia, o qual pretendia investigar a questão: o que significa ser humano em uma época hiperconectada?  Deste projeto resultou a publicação do livro The Onlife Manifesto (2015), editado pelo coordenador do projeto Luciano Floridi. Na introdução, Floridi afirma: We decided to adopt the neologism “onlife” that I had coined in the past in order to refer to the new experience of a hyperconnected reality within which it is no longer sensible to ask whether one may be online or offline.
 Manifesto refere que as TIC não são meras ferramentas, mas forças ambientais que, cada vez mais, afetam a nossa auto-conceção (quem somos), as nossas interações (como socializamos), a nossa conceção de realidade e as nossas interações com a realidade. Assim, em cada um dos casos, as TIC possuem um grande significado em termos éticos, legais e políticos e o seu impacto deve-se a quatro grandes transformações: o enfraquecimento da distinção entre realidade e virtualidade; o enfraquecimento da distinção entre humano, máquina e natureza; a reversão de uma situação de escassez para abundância de informação; e a passagem da primazia das propriedades, individualidades e relações binárias para a primazia das interações, processos e redes.
 Manifesto assume, pois, um caráter vago propositado: “(…) none or few of the recommendations put forward in this work are “ready-to-use”: they all require an active reinterpretation or translation by each reader, depending where she or he sits in this hyperconnected era.” Assim, o texto deverá ser entendido como um impulsionador para uma reflexão sobre a amplitude do impacto das TIC nas diversas esferas da nossa vida e na própria condição humana, jamais podendo a educação, enquanto ponto fulcral de uma sociedade, ser colocada à margem.
Novos desafios se colocam à Escolas dos nossos dias. Novos desafios se colocam aos atores educativos: professores, alunos e encarregados de educação. Novos desafios se colocam, em última instância, aos nossos políticos, responsáveis por muitos dos documentos orientadores e pelos investimentos ao nível de recursos materiais e humanos. Na verdade, creio que a onlife, enquanto paradigma educativo do século XXI, já chegou… ainda que muitos a recusem e lhe resistam. Sendo eu própria adepta da utilização das TIC no processo de aprendizagem, tenho-me interrogado bastante sobre o motivo pelo qual alguns docentes se recusam a integrá-las nas suas dinâmicas pedagógicas e creio que, muitas vezes, tal se deve somente à insegurança: O quê? Como? Quando? Para quê? As respostas a estas perguntas poderiam, e deveriam ser encontradas através de formação contextualizada, específica e significativa.
 A integração das TIC no processo de aprendizagem não invalida, contudo, a utilização de outras metodologias… muito pelo contrário! Tendo em conta as múltiplas inteligências existentes e a necessária diferenciação pedagógica, as dinâmicas afiguram-se como complementares e não mutuamente exclusivas, nem sequer sendo necessariamente simultâneas. Isto é válido tanto para a questão espacial em sala de aula, como para os recursos (materiais, equipamentos…) e/ou métodos a utilizar.
 No entanto, para que tal aconteça, é necessário que a formação de professores (inicial e contínua) seja repensada. Assim, para além dos conteúdos (conhecimentos específicos) e das metodologias (práticas, processos e métodos de ensino-aprendizagem), é fundamental que a formação docente passa a integrar as TIC (tecnologias, ferramentas, recursos).
 É de acordo com este pressuposto que surge o modelo teórico TPACK, cujo conceito não pode ser atribuído a ninguém em particular, embora a descrição pioneira possa ser encontrada em  Mishra and Koehler (2006):
Segundo estes autores, a abordagem destes três conhecimentos (do conteúdo, do pedagógico e do tecnológico) ultrapassa a capacitação dos docentes nestas três áreas de forma isolada, afirmando que as novas competências dos professores se encontram na interseção entra elas. Os professores devem compreender e negociar as relações entre as três componentes, de acordo com o contexto e com os diferentes cenários de aprendizagem. Vale a pena espreitar!      http://www.tpack.org/
Sílvia Serrano

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