Parece-me que, nos dias de hoje, a distinção entre a vida online e offline já não faz qualquer sentido. A verdade é que muitos adultos, e atrevo-me a dizer a quase totalidade dos nossos jovens, dos nossos alunos, vivem permanentemente conectados, pelo que qualquer tentativa da por parte da Escola em insistir nessa dicotomia e em estabelecer uma rutura entre on e off está condenada ao fracasso. O caminho, parece-me, terá de passar por uma rentabilização significativa, eficaz e eficiente, do que poderá constituir um aliado poderoso nos processos de aprendizagem: as TIC.
O conceito de onlife poderá, então, fazer sentido ao nível da educação. O termo teve origem no projeto Iniciativa Onlife, lançado pela Comissão Europeia, o qual pretendia investigar a questão: o que significa ser humano em uma época hiperconectada? Deste projeto resultou a publicação do livro The Onlife Manifesto (2015), editado pelo coordenador do projeto Luciano Floridi. Na introdução, Floridi afirma: We decided to adopt the neologism “onlife” that I had coined in the past in order to refer to the new experience of a hyperconnected reality within which it is no longer sensible to ask whether one may be online or offline.
O Manifesto refere que as TIC não são meras ferramentas, mas forças ambientais que, cada vez mais, afetam a nossa auto-conceção (quem somos), as nossas interações (como socializamos), a nossa conceção de realidade e as nossas interações com a realidade. Assim, em cada um dos casos, as TIC possuem um grande significado em termos éticos, legais e políticos e o seu impacto deve-se a quatro grandes transformações: o enfraquecimento da distinção entre realidade e virtualidade; o enfraquecimento da distinção entre humano, máquina e natureza; a reversão de uma situação de escassez para abundância de informação; e a passagem da primazia das propriedades, individualidades e relações binárias para a primazia das interações, processos e redes.
O Manifesto assume, pois, um caráter vago propositado: “(…) none or few of the recommendations put forward in this work are “ready-to-use”: they all require an active reinterpretation or translation by each reader, depending where she or he sits in this hyperconnected era.” Assim, o texto deverá ser entendido como um impulsionador para uma reflexão sobre a amplitude do impacto das TIC nas diversas esferas da nossa vida e na própria condição humana, jamais podendo a educação, enquanto ponto fulcral de uma sociedade, ser colocada à margem.
Novos desafios se colocam à Escolas dos nossos dias. Novos desafios se colocam aos atores educativos: professores, alunos e encarregados de educação. Novos desafios se colocam, em última instância, aos nossos políticos, responsáveis por muitos dos documentos orientadores e pelos investimentos ao nível de recursos materiais e humanos. Na verdade, creio que a onlife, enquanto paradigma educativo do século XXI, já chegou… ainda que muitos a recusem e lhe resistam. Sendo eu própria adepta da utilização das TIC no processo de aprendizagem, tenho-me interrogado bastante sobre o motivo pelo qual alguns docentes se recusam a integrá-las nas suas dinâmicas pedagógicas e creio que, muitas vezes, tal se deve somente à insegurança: O quê? Como? Quando? Para quê? As respostas a estas perguntas poderiam, e deveriam ser encontradas através de formação contextualizada, específica e significativa.
A integração das TIC no processo de aprendizagem não invalida, contudo, a utilização de outras metodologias… muito pelo contrário! Tendo em conta as múltiplas inteligências existentes e a necessária diferenciação pedagógica, as dinâmicas afiguram-se como complementares e não mutuamente exclusivas, nem sequer sendo necessariamente simultâneas. Isto é válido tanto para a questão espacial em sala de aula, como para os recursos (materiais, equipamentos…) e/ou métodos a utilizar.
No entanto, para que tal aconteça, é necessário que a formação de professores (inicial e contínua) seja repensada. Assim, para além dos conteúdos (conhecimentos específicos) e das metodologias (práticas, processos e métodos de ensino-aprendizagem), é fundamental que a formação docente passa a integrar as TIC (tecnologias, ferramentas, recursos).
É de acordo com este pressuposto que surge o modelo teórico TPACK, cujo conceito não pode ser atribuído a ninguém em particular, embora a descrição pioneira possa ser encontrada em Mishra and Koehler (2006):
Segundo estes autores, a abordagem destes três conhecimentos (do conteúdo, do pedagógico e do tecnológico) ultrapassa a capacitação dos docentes nestas três áreas de forma isolada, afirmando que as novas competências dos professores se encontram na interseção entra elas. Os professores devem compreender e negociar as relações entre as três componentes, de acordo com o contexto e com os diferentes cenários de aprendizagem. Vale a pena espreitar! http://www.tpack.org/
Sílvia Serrano

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